O que um contrato da Clemen Gold pode nos ensinar sobre empatia?

O que um contrato da Clemen Gold pode nos ensinar sobre empatia?

O incrível contato de trabalho em quadrinhos para trabalhadores da Clemen Gold. Uma aula de empatia.

A Clemen Gold é uma marca operada pela Indigo Fruit, empresa agrícola que cultiva e fornece frutas cítricas. A maior parte dos seus colaboradores que realizam a coleta das frutas é analfabeta e incapaz de interpretar corretamente as disposições de um contrato.

Em 2016, a Indigo Fruit contratou a Creative Contracts para elaborar o seu contrato de trabalho com esses colaboradores.

Ciente da situação, a Creative Contracts elaborou um contrato de trabalho em quadrinhos para que os trabalhadores compreendessem facilmente as cláusulas contratuais.

Olha como ficou bacana o resultado desse projeto:

https://creative-contracts.com/clemengold/

Isso quer dizer que um contrato precisa ser em quadrinhos para ter empatia? Óbvio que não. A lição que aprendemos com esse projeto é a importância de se atentar ao usuário do documento, tornando-o eficiente para os fins aos quais se destina.

O que é empatia?

Muitos definem a empatia como a capacidade de se colar no lugar de outra pessoa. Mas, será que isso é, realmente, possível? Se sim, em qual medida isso ajuda a resolver um problema?

Essa é uma reflexão importante quando pensamos em termos de praticar efetivamente a empatia. Disso decorre a necessidade de critérios práticos que nos permitam praticá-la.

No que tange o Legal Design de Informação, podemos entender que a empatia é a capacidade de ajustar a comunicação para ajudar o destinatário do documento jurídico a compreendê-lo, ajudando esse usuário a tomar a decisão correta.

Como identificar o usuário?

A Informação Jurídica, em geral, possui diversos usuários. Por isso, um exercício da empatia nos mostra o porquê de modelos de contratos, petições, entre outros, replicados indiscriminadamente e sem qualquer estratégia, são a raiz de muitos problemas.

A primeira coisa que precisamos pensar para expor uma informação jurídica é: qual é o usuário desse documento? Quais suas necessidades? Seus desejos?

Parece simples. Mas, na prática, não é tanto assim, como podemos ver nos exercícios destacados abaixo:

 

O usuário de uma petição judicial: Juiz, Desembargador, Ministro e Assessores

Como fazer com que eles entendam os argumentos da petição?

A pesquisa “Elementos visuais em petições na visão da magistratura federal” revelou que os principais problemas que os magistrados verificam nas petições processuais são:

  • Argumentação genérica
  • Redação prolixa
  • Número excessivo de páginas
  • Transcrição excessiva de jurisprudência
  • Má formatação da peça
  • Uso excessivo de destaques

 

Essa pesquisa deixa claro que não é a simples inclusão de elementos visuais que auxiliará os julgadores a entenderem os argumentos expostos nas petições.

Pelo contrário, antes de mais nada, é necessário ajustar o próprio texto. Para isso, existem ferramentas adequadas, como hierarquia da informação, estrutura da informação, princípios de design, entre outras.

Existe uma concepção equivocada de que para a justar a linguagem basta escrever palavras simples e não utilizar termos técnicos. Todavia, será que é necessário reduzir ou explicar termos técnicos para magistrados? Claro que não, pois os profissionais do Direito possuem conhecimento técnico da matéria.

Logo, é importante perceber que exercer a empatia é importante para ajustar a comunicação e escolher as ferramentas e técnicas adequadas para cada caso.

 

O usuário de um contrato de seguro ou de financiamento: pode ser uma pessoa de qualquer classe social, de padrão de escolaridade alta ou baixa, analfabeto, portador de necessidades especiais que limitem ou impeçam a leitura, entre outros.

Percebem que dentro de um mesmo seguimento, haverá uma diversidade de usuários complexa e que precisa ser observada, sob pena de que apenas poucos deles sejam atendidos?

Esse mesmo raciocínio pode ser utilizado quando se pensa em regimentos internos de condomínios, políticas de privacidade, contratos de trabalho, etc.

Conclusão

Entender a dor do usuário não significa somente se atentar à dificuldade para a leitura, mas também observar o modo de vida, atentando-se, por exemplo, a ausência de tempo devido a dinâmica social atual.

Quando nos aprofundamos na complexidade da empatia da fase da descoberta do Legal Design de informação, pode surgir a sensação de que é algo quase impossível. Mas, não é. O Legal Design tem ferramentas que nos auxiliam nessa reflexão e pesquisas necessárias.

Ademais, tendo em vista o resultado que pode ser alcançado, não restam dúvidas de que vale a penas separar um tempinho para se dedicar à fase de descoberta do Legal Design, exercendo a empatia.

Tags :

Contrato, design thinking, legal design, Quadrinhos, visual law

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